domingo, 5 de outubro de 2014

Ser Humano é tudo igual

Em um ano morando no mesmo lugar, dá para tirar algumas conclusões baseadas em observações e comparações, e eu cheguei aos pontos abaixo depois de analisar na minha cabeça e conversar com outros americanos (do sul e do norte) e com a minha mãe e amiga que passaram um tempinho aqui comigo.
Países que foram colônias têm o costume de se olhar da maneira que a metrópole sempre os olhou, e no Brasil isso resultou no nosso tão falado "Complexo de Vira-lata" que o Nelson Rodrigues falou lá em 1950 e que nas manifestações de 2013 (Revolução do Vinagre) foi tão repetido e discutido.
Eu tenho ainda conheci outra teoria, que ouvi numa aula na Faculdade de Letras e nunca consegui esquecer: para formarmos adjetivo de nacionalidade, acrescentamos o sufixo 'ano', como italiano, chileno, peruano, ou variações como argentino, alemão, húngaro. No Brasil, usamos brasileiro, o sufixo 'eiro' está basicamente ligado à profissão, local que se guarda objetos, objetos e coletivos (Breve Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, João Sá das Costa Editores, pág. 69), estressando, brasileiro, que trabalha no Brasil. 
Um "Melting Pot" onde as diversas nacionalidades europeias, mais tarde povos,  viriam para extrair o máximo que pudessem em então voltar à civilização, modernidade e cultura. O interessante não era tornar a maioria das colônias em potências que pudessem concorrer, esse 'olhar colonial' manteria os mestiços 'vira-latas' em seu devido lugar, inferiores colonias com subculturas e dependente dos produtos e da civilidade deles.
Fomos tão bem treinados que acreditamos veemente nisso, o Brasil só tem maloqueiro, gente que quer 'mamar nas tetas do governo', aproveitadores e incultos.

O discurso de "na Europa que é bom, moderno, limpo, sem mendigos, maior justiça social, menor jornada de trabalho, pessoas educadas, nada de bolsa família e não tem funk, esse gênero musical decadente" só pode ser de pessoas obviamente nunca foram à Europa, provavelmente nunca saíram do Brasil, por isso imaginam que indo ao 'centro do mundo' vão encontrar pessoas superiores. 

A boa notícia é: ser humano é complicado em qualquer lugar do mundo, muitas cidades que conheci na Alemanha, em Portugal ou mesmo Paris são sujas e cheias de mendigo! Tem uma 'cracolândia' bem pertinho da estação de trem (aliás lugar que evito passar sozinha e quando vou fico próxima ao segurança) onde moro. Pode ter menos gente na podreza e maior igualdade social, mas ainda sim existem pessoas pedindo dinheiro, recolhendo latinhas e garrafas na rua e roubando (clique aqui para reler o triste relato das minhas botas Timberland), sobre a jornada de trabalho, depende muito da empresa e do lugar, meu ex namorado publicitário trabalhava em casa de fim de semana e às vezes entrava às 7 horas da manhã para ficar até a noite, existem similares ao bolsa família para todo tipo de pessoa, tem bônus para bebês, ajuda financeira até certa idade e outras formas do governo auxiliar que não consegue trabalho, e existem 'maloqueiros', muitos, mulheres com cinco filhos pendurados, gritando no trem, ouvindo hip hop em alemão alto dentro do transporte público e todas' àquelas coisas horrorosas 'que os coxinhas pensam que 'só existe no Brasil'.

A educação eu deixei para o final porque é algo que me incomoda muito: alemão não respeita fila! Não existe esse conceito na cabeça deles, não se pode generalizar, mas em todos os lugares vejo isso. Fila para ir ao banheiro? Só se tiver um segurança controlando, se não as mulheres vão se jogando para entrar primeiro. Tenho uma história engraçada de uma festa deste ano, eu esperava na fila e quando chegou a minha vez uma menina atrás passou à minha frente e entrou na porta que abriu, não deu tempo nem de eu reagir, a segunda foi tentar fazer o mesmo, mas eu não aguentei, andei mais rápido e abri a porta com tudo, que bateu na cara dela. mandei o bom e velho "chudigung" (entschuldigung). Fila de ônibus é a mesma coisa, o problema é seu se você chegou vinte minutos antes dele, alguém que chegou 2 minutos antes vai tentar furar fila, é a síndrome de Schumacher, eles querem passar na frente pisando nos pés do adversário para pegar um lugarzinho perto da janela.

Lugar reservado em transporte público? Até tem, a maioria das pessoas não respeita e eu já vi senhoras de andador tendo que ficar em pé porque ninguém oferece lugar para sentar, não é igual o vídeo daquela moça que não queria dar lugar a uma senhora no ônibus (vídeo que não entendi porque outra pessoa não cedeu lugar e deixou uma discussão inútil acontecer, se aprendi algo na vida é que com pessoa idiota não se discute, deve-se falar 'tadinha, deve ser muito foda ser assim...'), ninguém nem olha. já tive que pedir para um cara sentado num banco reservado para dar licença para um senhorzinho sentar. O senhor jamais pediria, o que meu ex falou, segundos antes de eu levantar de um assento normal para ceder à um homem com bebê no colo foi: " a pessoa pode ficar ofendida se você oferecer lugar", eu ofereci e o homem ficou muito satisfeito e deixou eu brincar com o bebê. 
A melhor resposta que ele poderia ter.

A conclusão é, gente mal educada, grossa, 'maloqueira', existe em qualquer lugar do mundo e que a gente precisa enxergar um pouquinho mais além do oceano atlântico!

(próximo post talvez eu fale do atendimento em bares e restaurantes aqui da Alemanha, é tão ruim que parece que você está fazendo um favor à garçonete, ainda assim elas fazem 100 euros de gorjeta por noite)

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