sábado, 27 de abril de 2013

Made in Japan: Biografia do criador da Sony

Vou começar fazendo um parentêses, procurando imagens da capa, deparei-me com diversos blogs de empreendedores citando o livro, foi muito curioso ver outras opiniões pois, para mim, o que marcou foi o orgulho com o que Akio fala de seus compatriotas e as comparações que fez de sua língua com o inglês e francês. Ele diz que em japonês é difícil haver discussões, que a língua é complicada demais e indireta para que se possa argumentar bem. Como iniciante nos estudos de japonês - eu me considero nível básico e comecei a estudar há cinco anos - penso que pode ser a falta do verbo ser/estar, os diversos graus de polidez e o fato ser uma sociedade fechada em seu grupo que busca o bem do seus.


Saindo do mérito linguístico, a vida de Akio Morita foi um pouco surreal, meio filme hollywoodiano, com maestros famosos frequentando sua casa, Ladi Di grávida na inauguração de fábrica da Sony no País de Gales, bate-papo animado com Deng Xiaoping.
Tirando a parte Caras que a gente adora, ele conta um pouquinho de seu desempenho na escola, que não foi muito bom, como teve de se esforçar para entrar na faculdade, como foi sua participação no exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial, o fim da guerra e como foi a ocupação americana.
Durante os anos que se seguiram, sete até que os EUA ficaram mais enrolados combatendo os vermelhinhos, o Japão teve que se reerguer das cinzas literalmente, os diversos bombardeios e as duas bombas atômicas deixaram o país devastados, faltava tudo, comida, gasolina, habitações, foi muito interessante ler de um ponto-de-vista de quem esteve lá, pois apesar de vir de uma família abastada- Akio era herdeiro de uma empresa de sakê e misô- eles não escaparam da reforma agrária, tiveram que dar um "jeitinho" comprando equipamentos no mercado negro e gasolina dos tanques americanos.

Com o fim da ocupação surgiu o chamado milagre japonês, que de milagre não teve nada, foi uma junção de bons juros na poupança, sociedade pronta para consumir, mão-de-obra super especializada, mercado interno muito competitivo e um país querendo provar ao mundo que Made in Japan é uma coisa muito boa ( nos 1950 era sinal de produto de baixa qualidade, como é agora Made in China). Graças aos americanos os Zaibatsu, grande empresas familiares que dominavam o mercado antes da guerra, foram enfraquecidos e novas empresas puderam começar a concorrer.

Akio Morita conheceu durante a guerra o seu sócio nos negócios Masaru Ibuka, pessoa com visão de futuro e com muito conhecimento, os dois juntos tinham muita força de vontade e sentiam que fazer uma invenção de sucesso contribuiria também para o crescimento do país, e foi o que aconteceu, a Sony, assim como outras empresas de technologia de ponta japonesas colocaram o pequeno arquipélago "no mapa", esses empresários que se esforçaram por abrir o mercado para seus produtos fizeram mais que exportar produtos que adaptaram do ocidente, criaram um diálogo que não existia e como alcançaram isso deveria ser lição para outros países, principalmente os emergentes, e o Brasil está nessa.


O criador da Sony fala dos conflitos que teve com os advogados americanos e gasta umas boas linhas discutindo sobre como eles são prejudiciais para o sistema de lá, ainda bem que aqui não são (ainda ) tão nocivos, sempre atrás de uma brecha para conseguir sua comissão, eles têm sua parcela de culpa na crise de 2011 e Morita parecia já prever isso, apesar de ter concluído sua biografia na metade dos anos 80 e ter falecido em 1999. Outra coisa valiosa que ele previa é que a busca por lucro rápido, para satisfazer os acionistas, resultaria em falta de extrutura nas empresas, falta de criatividade e descontentamento entre os funcionários, principalmente diretoria.

Ele conta o caso de um gerente da filial americana que após um ano na empresa e desempenhando muito bem a sua função pediu demissão sem mais nem menos, e pior, quando se reencontraram em uma feira o "traidor" fez questão de cumprimentá-lo como se nada tivesse acontecido, e nada tinha mesmo, para o mercado americano não tem problema que o gerente/diretor fique na empresa, aprenda todos os segredos e então os leve para outra empresa, o que para o japonês é considerado traição. Eu achei isso muito interessante, venho de um ramo onde é ok mudar de emprego rapidamente pois essa pode ser uma oportunidade de aumentar o salário e também de trabalhar com clientes diferentes, mas faz sentido para uma empresa como a dele, onde os funcionários podem e devem fazer carreira e dar feedbacks constantes com sugestões, se eles se sentem desmotivados, são encorajados  à mudar de posição dentro da empresa. Essa ideia de emprego para o resto da vida está tão distante.



Morita foi quem pensou e idealizou a coisa mais banal para nós hoje, o rádio individual, em 1979 lançou o Walkman, no começo meio desacreditado por seus próprios engenheiros, mas virou mania rapidamente, todo mundo quer poder ouvir suas músicas em qualquer lugar!
O conceito de pequeno, tão comum entre os eletrônicos japoneses é explicado por Morita pela ideia do Mottainai, algo como "não desperdice o que a natueza deu", por isso tentam diminuir o tamanho, usar menos recursos e produzir menos lixo, coisas que também precisamos aprender.  


Este livro de mais de 300 páginas é que andou consumindo meu tempo de blogar, pode parecer um pouco repetitivo mas tem muita sabedoria no meio.

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