Estou dormindo Japão, acordando Kanjis e me alimentando de partículas に e か.
Caiu em minhas mãos o assunto deste meu post, um dos 1,5 mil trabalhos do jornalista Benedicto Ferri de Barros, um grande contribuidor para os estudos literários japoneses aqui no Brasil, ele viveu bastante e também fez muita coisa, entre poesias, livros, artigos...
O livro traz um conjunto de pequenos textos, de duas a três páginas, que tentam desvendar algumas das características mais curiosas da cultura japonesa, o primeiro texto O besouro voador, é uma bonita comparação entre o arquipélago japonês, que possui menos de 30% de área habitável, sujeito à vulcões, terremotos, tsunamis, onde falta ferro, petróleo e outras matérias primas essenciais à atividade industrial e mesmo assim é uma grande potência produtora de tecnologia, seria improvável que um país com tanta deficiência pudesse ter ser desenvolvido tanto, é ai que entra a comparação com o besouro, apesar de sua estrutura nada aerodinâmica, ele é capaz de voar.
Como conseguiram isso?
O autor começa a destrinchar a psiqué japonesa, desde a organização do Estado Japonês, em 604, seguem a " Constituição dos 17 artigos" e o primeiro deles é Wa ( aposto que você já viu tatuado em alguém) que significa harmonia, paz, concórdia, reconciliação, unidade.
Ele explica que a cultura ocidental procurou garantir autonomia do indivíduo, as prerrogativas pessoais e os direitos dos homens, o que acarretou num agravamento das dicotomias do poder ( quem manda quer mandar ainda mais por se achar no direito) e o antagonismo entre os poderes sociais ( quem não está no poder sofre e vive em conflitos). A solução da cultura japonesa foi oposta, ao invés de conferir direitos, atribuiu obrigações. Os cidadãos se sentem obrigados entre si, seja a seus antepassados, chefes, funcionários, e o incrível para nós ocidentais é que dentro deste sistema eles são mais livres que nós, pois dentro desta atmosfera de respeito eles se sentem verdadeiramente interligados e lutam para a subida do povo como um todo.
Se pensarmos no nosso modelo, onde um quer se sair melhor do que o outro, trabalhar menos e ganhar mais, percebemos que nossa sociedade é muito mais opressora que a deles, e um modelo fadado ao fracasso e crise interna, como já está se manifestando aos poucos, mas de forma agressiva.
Entre meus capítulos preferidos estão os dois que falam dos samurais, eles me fizeram lembrar um pouco
dos dândis, tirando que estes eram totalmente fúteis, os bushi, viviam o caminho da espada e do pincel, além de se dedicarem às artes marciais, cultivavam as artes, como caligrafia, pintura, poesia. Conseguiram instaurar a paz no período feudal japonês e eram modelos de homens: justos, disciplinados, cultos e leais. Até hoje é comum ouvir que "tal pessoa é decidida, pois vem de família de samurais". ( Para saber mais sobre estes guerreiros consulte de Inazo Nitobe, Bushidô- A Alma do Japão)
Gostei muito destes dois temas, mas tenho outras partes favoritas, como quando ao falar do Shintoísmo, do Budismo e Confucionismo, filosofias mais naturalistas, amplamente aceitas e praticadas no Japão, o autor compara com as religiões ocidentais, que o excesso de misticismo, tornaram-nas absurdas e dispensáveis ao homem contemporâneo ( isso ele Benedicto Ferri escreveu nos anos oitenta, hoje é ainda mais realidade), tanto que às vezes me sinto babaca ao dizer que acredito em Deus, e olha os japoneses acreditam em vários deuses.
Ao falar das tradições nipônicas ele nos relembra que a civilização ocidental acabou com aquilo que tinha de mais importante, a filosofia, a falta de fé e de pensamento racional, somadas ao nosso excesso de direitos e falta de responsabilidades ( e mesmo obrigações), pode ter sido responsável pelas tantas doenças psicossomáticas e psicológicas que vemos entre nosso conterrâneos: " No ocidente, as crenças (ou descrenças leigas) evoluíram para neuroses e psicoses e produziram as soluções "racionais e científicas" das psicoterapias." O habitat japonês, com suas religiões, liames sociais e culturais resultou em um dos ecossistemas antropológicos mais adequados à espécie humana, harmonioso e equilibrado.
É interessante ler sobre outras culturas pois aprendemos mais sobre a nossa própria, também é bom conhecer outros modelos para buscarmos melhorar a nossa realidade, o livro é agradável de ler, apesar de eu ter encrencando em alguns termos como Weltanschaunng, mas consegui enxergar no autor alguém tão apaixonado como eu.
2 comentários:
Você pode falar pelo menos o nome desse livro que você leu!? Achei o assunto super interessante! Obrigado
Você pode falar pelo menos qual o nome deste livro!? Achei o assunto muito interessante!!!!!
Postar um comentário