segunda-feira, 20 de maio de 2013

Japão: A Harmonia dos Contrários

Pulei dois livros da lista, eles entrarão depois, espero, O Livro dos Cinco Anéis (aquele de estratégia escrito pelo samurai Musashi Miyamoto) e A Arte da Guerra, se vocês não gostam de autores orientais ou sobre o oriente, vão ficar entediados com as minhas leituras.
Estou dormindo Japão, acordando Kanjis e me alimentando de partículas に e か.

Caiu em minhas mãos o assunto deste meu post, um dos 1,5 mil trabalhos do jornalista Benedicto Ferri de Barros, um grande contribuidor para os estudos literários japoneses aqui no Brasil, ele viveu bastante e também fez muita coisa, entre poesias, livros, artigos...
O livro traz um conjunto de pequenos textos, de duas a três páginas, que tentam desvendar algumas das características mais curiosas da cultura japonesa, o primeiro texto O besouro voador, é uma bonita comparação entre o arquipélago japonês, que possui menos de 30% de área habitável, sujeito à vulcões, terremotos, tsunamis, onde falta ferro, petróleo e outras matérias primas essenciais à atividade industrial e mesmo assim é uma grande potência produtora de tecnologia, seria improvável que um país com tanta deficiência pudesse ter ser desenvolvido tanto, é ai que entra a comparação com o besouro, apesar de sua estrutura nada aerodinâmica, ele é capaz de voar.
Como conseguiram isso?
kanji for harmony, Japanese style, peace, soften, Japan
O autor começa a destrinchar a psiqué japonesa, desde a organização do Estado Japonês, em 604, seguem a " Constituição dos 17 artigos" e o primeiro deles é Wa ( aposto que você já viu tatuado em alguém) que significa harmonia, paz, concórdia, reconciliação, unidade.
Ele explica que a cultura ocidental procurou garantir autonomia do indivíduo, as prerrogativas pessoais e os direitos dos homens, o que acarretou num agravamento das dicotomias do poder ( quem manda quer mandar ainda mais por se achar no direito) e o antagonismo entre os poderes sociais ( quem não está no poder sofre e vive em conflitos). A solução da cultura japonesa foi oposta, ao invés de conferir direitos, atribuiu obrigações. Os cidadãos se sentem obrigados entre si, seja a seus antepassados, chefes, funcionários, e o incrível para nós ocidentais é que dentro deste sistema eles são mais livres que nós, pois dentro desta atmosfera de respeito eles se sentem verdadeiramente interligados e lutam para a subida do povo como um todo.
Se pensarmos no nosso modelo, onde um quer se sair melhor do que o outro, trabalhar menos e ganhar mais, percebemos que nossa sociedade é muito mais opressora que a deles, e um modelo fadado ao fracasso e crise interna, como já está se manifestando aos poucos, mas de forma agressiva.

Entre meus capítulos preferidos estão os dois que falam dos samurais, eles me fizeram lembrar um pouco
dos dândis, tirando que estes eram totalmente fúteis, os bushi, viviam o caminho da espada e do pincel, além de se dedicarem às artes marciais, cultivavam as artes, como caligrafia, pintura, poesia. Conseguiram instaurar a paz no período feudal japonês e eram modelos de homens: justos, disciplinados, cultos e leais. Até hoje é comum ouvir que "tal pessoa é decidida, pois vem de família de samurais". ( Para saber mais sobre estes guerreiros consulte de Inazo Nitobe, Bushidô- A Alma do Japão)

Gostei muito destes dois temas, mas tenho outras partes favoritas, como quando ao falar do Shintoísmo, do Budismo e Confucionismo, filosofias mais naturalistas, amplamente aceitas e praticadas no Japão, o autor compara com as religiões ocidentais, que o excesso de misticismo, tornaram-nas absurdas e dispensáveis ao homem contemporâneo ( isso ele Benedicto Ferri escreveu nos anos oitenta, hoje é ainda mais realidade), tanto que às vezes me sinto babaca ao dizer que acredito em Deus, e olha os japoneses acreditam em vários deuses.
Ao falar das tradições nipônicas ele nos relembra que a civilização ocidental acabou com aquilo que tinha de mais importante, a filosofia, a falta de fé e de pensamento racional, somadas ao nosso excesso de direitos e falta de responsabilidades ( e mesmo obrigações), pode ter sido responsável pelas tantas doenças psicossomáticas e psicológicas que vemos entre nosso conterrâneos: " No ocidente, as crenças (ou descrenças leigas)  evoluíram para neuroses e psicoses e produziram as soluções "racionais e científicas" das psicoterapias." O habitat japonês, com suas religiões, liames sociais e culturais resultou em um dos ecossistemas antropológicos mais adequados à espécie humana, harmonioso e equilibrado.

É interessante ler sobre outras culturas pois aprendemos mais sobre a nossa própria, também é bom conhecer outros modelos para buscarmos melhorar a nossa realidade, o livro é agradável de ler, apesar de eu ter encrencando em alguns termos como Weltanschaunng, mas consegui enxergar no autor alguém tão apaixonado como eu.
 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Namore Um Cara Que Viaja

Eis que recebo um link de um amigo com o mesmo título deste meu post, dizendo que se identificou com o que estava escrito e que ao ler trocou boy por girl. Eu fiquei um pouco chocada, a menina que escreveu é minha irmã de pensamento! Eu entendo que a parte ruim de eu ter pego gosto por viajar é que quero pessoas ao meu redor que curtam o mesmo e principalmente em relacionamento, o cara "tipo caseiro" não me apraz, muito menos o senhor "eu sou muito ocupado, time is money, preciso pagar o meu i30", gosto de pessoas que contam histórias que comecem com : "quando eu estava mochilando pela Cisjordânia..."

De Thok Photography

tirada do http://www.epictrail.com/

E geralmente pessoas que curtem viajar, ainda mais no esquema low-budget (ou o que eu gosto de brincar "ganho em Reais"),  têm mais apreço por todas as experiências, nao perdem tempo com passeios bestas ou algo só para se vangloriar de que "esteve lá", essas pessoas também respeitam a natureza, do tipo que pensam que não teriam um carro porque além de poluir e ser caro é um tipo de prisão, afinal 36 parcelas é uma forma de se aprisionar, quem quer ter uma dívida absurda dessas? Elas também apreciam a cultura local de onde vão, não ficam falando "nossa no meu país isto é melhor/funciona/ mais rápido", aceitam as diferenças.

Cena de Into the Wild

Cena de On the Road

Viajar abre a cabeça, mas também vicia e te deixa um pouquinho maluco, tenho a data exata de quando comecei a pirar, 28 de novembro de 2006, quando fui para a Disney como CastMember e descobri as maravilhas de se viver em outra cultura, mas foi uma experiência super consumista que me rendeu 2 malas de 42 quilos, coisa que ano passado não rolou.
Porque em 2011 conheci pessoas do Couchsurfing, eu fiquei duas semanas em New York com eles, babando a cada história, e consegui a proeza de voltar carregando menos de 20 quilos em roupas de frio! Ai já era, comecei a me desfazer de algumas coisas que me deixavam "presa" como minha coleção de sapatos de plástico e outras posses, vendendo, trocando ou doando, para me preparar para outra "aventura", e estou cada vez com menos coisas no armário, cultivando a frugalidade.


Bom, toda essa digressão para dizer que, namore alguém que curta viajar, mas também tenha amigos assim, converse com eles, viaje com uma mochilinha nas costas contendo dois vestidos, uma sapatilha, um chinelo, um tênis, um biquini (sempre levo um, não importa para onde vou, você nunca sabe), três regatas, um shorts e jeans entre outras coisinhas, SEJA e não TENHA. Conheça pessoas engraçadas e doidas, que mudaram de país sem conhecer ninguém, saiba que o mundo é pequeno, mesmo sendo tão grande.

minha concepção babaca

O texto da menina se encontra neste link, preciso muito destacar a minha parte preferida, que é o meu casamento ideal desde que me entendo por gente:



" You will get married somewhere unassumed, surrounded by a select few, in a moment constructed to celebrate venturing into the unknown together again. Marry the boy who’s travelled and together you will make the whole world your home. Your honeymoon will not be forgotten to a buffet dinner and all-you-can-drink beach bars, but will be remembered in the triumphant photographs at the top of Kilimanjaro and memorialized in the rewarding ache of muscles at the end of a long days hike.
When you’re ready, you will have children that have the names of the characters you met on your journeys, the foreign names of people who dug a special place in your heart if only for a few days. Perhaps you will live in another country, and your children will learn of language and customs that open their minds from the very start, leaving no room for prejudice. He will introduce them to the life of Hemingway, the journey of Santiago, and empower them to live even bigger than both of you."



Tantos nomes legais para eu escolher!

Troque Kilimanjaro por outro cenário deslumbrante e pense em crianças criadas num ambiente multicultural, sem preconceito= Juminako cada dia soando mais hippie. Estejam cientes que informei dos perigos! Caras que viajam sao um pouco inconstantes e muito livres, se voce é do tipo possessiva, nao vai dar muito certo!


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Convite: Bazar de Moda Alternativa no domingo 26/05

Passei o domingo etiquetanto, arrumando e montando kits para levar a um bazar muito especial, este é aberto ao público e se concentra em vendas, mas tmabém poderá haver trocas e rolos ;)

Pela lista de convidados (aqui o link do evento) dá para ver que teremos Lolitas, Gyarus, amantes de cultura japonesa e coreana, pessoas que curtem fofurinhas e retrô. Eu vou levar algumas das peças da lojinha ( http://hachikoshop.blogspot.com/ ) quem quiser fazer encomendas, fique a vontade!



Os organizadores são Wilian Souza e a Kao Pink ( dona do http://merrygoround.tanlup.com/ ), olha a descrição do evento:

Armário da Kao, que loucura! : O

"Esse bazar entre amigos e admiradores da moda alternativa tem como intuito trocar e vender peças diferentes entre nós! Qualquer um pode levar suas peças e elas podem ser de qualquer estilo, a única regra e que estejam limpas e em bom estado. Podem levar cosméticos e acessórios também, tudo que tem ligação com moda ta liberado!

Peço uma contribu
ição de 5 reais para me ajudar com o aluguel do salão ou então um pratinho de doce, salgado ou bebida (suco, água ou refri) pra gente fazer como se fosse uma festinha ♥

O local será no salão do prédio do Uiu, que é um lugar espaçoso e ja tem mesas e cadeiras pra gente se organizar, mas não tem muitas, então teremos q dividir o espaço como fazemos no Girondino. Pra entrar no prédio é só dar o nome do Uiu (Willian Souza) e avisar que vai pra festinha do salão."
 
Data:
Das 13:30 às 17:00
 
Endereço: Rua Parque Domingos Luis, 737, próximo ao metrô Jardim São Paulo (linha azul)/ Zona Norte

terça-feira, 7 de maio de 2013

H&M coloca uma menina normal na propaganda de beachwear

Adoro, na mesma semana que a Vogue manda a dieta da anorexia, vejo estas lindas fotos da H&M com a modelo Jennie Runk!
Sabe que são as malditas propagandas de lojas, novelas e filmes que fazem a gente ficar pensando: "caramba como sou  gorda", nos padrões atuais, as fotos a seguir estão totalmente fora do que é considerado sensual e bonito, mas o corpo da moça se assemelha à 30% das garotas que conheço ( se não mais), só não parece o meu porque não fui contemplada com peitos.





A discussão agora é, seria ele considerada plus size, por ser tamanho 46, ou parte da grade normal nas lojas?


Aproveito para deixar aqui a minha indignação, ok a modelo tem que ser como um cabide para sustentar as roupas e um corpo mais reto fica mais harmonioso e ressalta o produto, mas Victoria´s Secrets, as suas modelos precisam ser tão esqueléticas? Quantas meninas no mundo podem ter a "barriga negativa"? Por que a obrigação da magreza excessiva.
Além dos problemas com distúrbios alimentares, essas imagens causam problema na autoestima das mulheres, porque convenhamos, para ficar assim devemos seguir a dieta vogue, mas com isso vem fraqueza, mau hálito, pele feia, cabelo cai, essas garotas da foto, amigas, têm photoshop e HD make up.




sábado, 27 de abril de 2013

Made in Japan: Biografia do criador da Sony

Vou começar fazendo um parentêses, procurando imagens da capa, deparei-me com diversos blogs de empreendedores citando o livro, foi muito curioso ver outras opiniões pois, para mim, o que marcou foi o orgulho com o que Akio fala de seus compatriotas e as comparações que fez de sua língua com o inglês e francês. Ele diz que em japonês é difícil haver discussões, que a língua é complicada demais e indireta para que se possa argumentar bem. Como iniciante nos estudos de japonês - eu me considero nível básico e comecei a estudar há cinco anos - penso que pode ser a falta do verbo ser/estar, os diversos graus de polidez e o fato ser uma sociedade fechada em seu grupo que busca o bem do seus.


Saindo do mérito linguístico, a vida de Akio Morita foi um pouco surreal, meio filme hollywoodiano, com maestros famosos frequentando sua casa, Ladi Di grávida na inauguração de fábrica da Sony no País de Gales, bate-papo animado com Deng Xiaoping.
Tirando a parte Caras que a gente adora, ele conta um pouquinho de seu desempenho na escola, que não foi muito bom, como teve de se esforçar para entrar na faculdade, como foi sua participação no exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial, o fim da guerra e como foi a ocupação americana.
Durante os anos que se seguiram, sete até que os EUA ficaram mais enrolados combatendo os vermelhinhos, o Japão teve que se reerguer das cinzas literalmente, os diversos bombardeios e as duas bombas atômicas deixaram o país devastados, faltava tudo, comida, gasolina, habitações, foi muito interessante ler de um ponto-de-vista de quem esteve lá, pois apesar de vir de uma família abastada- Akio era herdeiro de uma empresa de sakê e misô- eles não escaparam da reforma agrária, tiveram que dar um "jeitinho" comprando equipamentos no mercado negro e gasolina dos tanques americanos.

Com o fim da ocupação surgiu o chamado milagre japonês, que de milagre não teve nada, foi uma junção de bons juros na poupança, sociedade pronta para consumir, mão-de-obra super especializada, mercado interno muito competitivo e um país querendo provar ao mundo que Made in Japan é uma coisa muito boa ( nos 1950 era sinal de produto de baixa qualidade, como é agora Made in China). Graças aos americanos os Zaibatsu, grande empresas familiares que dominavam o mercado antes da guerra, foram enfraquecidos e novas empresas puderam começar a concorrer.

Akio Morita conheceu durante a guerra o seu sócio nos negócios Masaru Ibuka, pessoa com visão de futuro e com muito conhecimento, os dois juntos tinham muita força de vontade e sentiam que fazer uma invenção de sucesso contribuiria também para o crescimento do país, e foi o que aconteceu, a Sony, assim como outras empresas de technologia de ponta japonesas colocaram o pequeno arquipélago "no mapa", esses empresários que se esforçaram por abrir o mercado para seus produtos fizeram mais que exportar produtos que adaptaram do ocidente, criaram um diálogo que não existia e como alcançaram isso deveria ser lição para outros países, principalmente os emergentes, e o Brasil está nessa.


O criador da Sony fala dos conflitos que teve com os advogados americanos e gasta umas boas linhas discutindo sobre como eles são prejudiciais para o sistema de lá, ainda bem que aqui não são (ainda ) tão nocivos, sempre atrás de uma brecha para conseguir sua comissão, eles têm sua parcela de culpa na crise de 2011 e Morita parecia já prever isso, apesar de ter concluído sua biografia na metade dos anos 80 e ter falecido em 1999. Outra coisa valiosa que ele previa é que a busca por lucro rápido, para satisfazer os acionistas, resultaria em falta de extrutura nas empresas, falta de criatividade e descontentamento entre os funcionários, principalmente diretoria.

Ele conta o caso de um gerente da filial americana que após um ano na empresa e desempenhando muito bem a sua função pediu demissão sem mais nem menos, e pior, quando se reencontraram em uma feira o "traidor" fez questão de cumprimentá-lo como se nada tivesse acontecido, e nada tinha mesmo, para o mercado americano não tem problema que o gerente/diretor fique na empresa, aprenda todos os segredos e então os leve para outra empresa, o que para o japonês é considerado traição. Eu achei isso muito interessante, venho de um ramo onde é ok mudar de emprego rapidamente pois essa pode ser uma oportunidade de aumentar o salário e também de trabalhar com clientes diferentes, mas faz sentido para uma empresa como a dele, onde os funcionários podem e devem fazer carreira e dar feedbacks constantes com sugestões, se eles se sentem desmotivados, são encorajados  à mudar de posição dentro da empresa. Essa ideia de emprego para o resto da vida está tão distante.



Morita foi quem pensou e idealizou a coisa mais banal para nós hoje, o rádio individual, em 1979 lançou o Walkman, no começo meio desacreditado por seus próprios engenheiros, mas virou mania rapidamente, todo mundo quer poder ouvir suas músicas em qualquer lugar!
O conceito de pequeno, tão comum entre os eletrônicos japoneses é explicado por Morita pela ideia do Mottainai, algo como "não desperdice o que a natueza deu", por isso tentam diminuir o tamanho, usar menos recursos e produzir menos lixo, coisas que também precisamos aprender.  


Este livro de mais de 300 páginas é que andou consumindo meu tempo de blogar, pode parecer um pouco repetitivo mas tem muita sabedoria no meio.
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