domingo, 5 de outubro de 2014

Ser Humano é tudo igual

Em um ano morando no mesmo lugar, dá para tirar algumas conclusões baseadas em observações e comparações, e eu cheguei aos pontos abaixo depois de analisar na minha cabeça e conversar com outros americanos (do sul e do norte) e com a minha mãe e amiga que passaram um tempinho aqui comigo.
Países que foram colônias têm o costume de se olhar da maneira que a metrópole sempre os olhou, e no Brasil isso resultou no nosso tão falado "Complexo de Vira-lata" que o Nelson Rodrigues falou lá em 1950 e que nas manifestações de 2013 (Revolução do Vinagre) foi tão repetido e discutido.
Eu tenho ainda conheci outra teoria, que ouvi numa aula na Faculdade de Letras e nunca consegui esquecer: para formarmos adjetivo de nacionalidade, acrescentamos o sufixo 'ano', como italiano, chileno, peruano, ou variações como argentino, alemão, húngaro. No Brasil, usamos brasileiro, o sufixo 'eiro' está basicamente ligado à profissão, local que se guarda objetos, objetos e coletivos (Breve Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, João Sá das Costa Editores, pág. 69), estressando, brasileiro, que trabalha no Brasil. 
Um "Melting Pot" onde as diversas nacionalidades europeias, mais tarde povos,  viriam para extrair o máximo que pudessem em então voltar à civilização, modernidade e cultura. O interessante não era tornar a maioria das colônias em potências que pudessem concorrer, esse 'olhar colonial' manteria os mestiços 'vira-latas' em seu devido lugar, inferiores colonias com subculturas e dependente dos produtos e da civilidade deles.
Fomos tão bem treinados que acreditamos veemente nisso, o Brasil só tem maloqueiro, gente que quer 'mamar nas tetas do governo', aproveitadores e incultos.

O discurso de "na Europa que é bom, moderno, limpo, sem mendigos, maior justiça social, menor jornada de trabalho, pessoas educadas, nada de bolsa família e não tem funk, esse gênero musical decadente" só pode ser de pessoas obviamente nunca foram à Europa, provavelmente nunca saíram do Brasil, por isso imaginam que indo ao 'centro do mundo' vão encontrar pessoas superiores. 

A boa notícia é: ser humano é complicado em qualquer lugar do mundo, muitas cidades que conheci na Alemanha, em Portugal ou mesmo Paris são sujas e cheias de mendigo! Tem uma 'cracolândia' bem pertinho da estação de trem (aliás lugar que evito passar sozinha e quando vou fico próxima ao segurança) onde moro. Pode ter menos gente na podreza e maior igualdade social, mas ainda sim existem pessoas pedindo dinheiro, recolhendo latinhas e garrafas na rua e roubando (clique aqui para reler o triste relato das minhas botas Timberland), sobre a jornada de trabalho, depende muito da empresa e do lugar, meu ex namorado publicitário trabalhava em casa de fim de semana e às vezes entrava às 7 horas da manhã para ficar até a noite, existem similares ao bolsa família para todo tipo de pessoa, tem bônus para bebês, ajuda financeira até certa idade e outras formas do governo auxiliar que não consegue trabalho, e existem 'maloqueiros', muitos, mulheres com cinco filhos pendurados, gritando no trem, ouvindo hip hop em alemão alto dentro do transporte público e todas' àquelas coisas horrorosas 'que os coxinhas pensam que 'só existe no Brasil'.

A educação eu deixei para o final porque é algo que me incomoda muito: alemão não respeita fila! Não existe esse conceito na cabeça deles, não se pode generalizar, mas em todos os lugares vejo isso. Fila para ir ao banheiro? Só se tiver um segurança controlando, se não as mulheres vão se jogando para entrar primeiro. Tenho uma história engraçada de uma festa deste ano, eu esperava na fila e quando chegou a minha vez uma menina atrás passou à minha frente e entrou na porta que abriu, não deu tempo nem de eu reagir, a segunda foi tentar fazer o mesmo, mas eu não aguentei, andei mais rápido e abri a porta com tudo, que bateu na cara dela. mandei o bom e velho "chudigung" (entschuldigung). Fila de ônibus é a mesma coisa, o problema é seu se você chegou vinte minutos antes dele, alguém que chegou 2 minutos antes vai tentar furar fila, é a síndrome de Schumacher, eles querem passar na frente pisando nos pés do adversário para pegar um lugarzinho perto da janela.

Lugar reservado em transporte público? Até tem, a maioria das pessoas não respeita e eu já vi senhoras de andador tendo que ficar em pé porque ninguém oferece lugar para sentar, não é igual o vídeo daquela moça que não queria dar lugar a uma senhora no ônibus (vídeo que não entendi porque outra pessoa não cedeu lugar e deixou uma discussão inútil acontecer, se aprendi algo na vida é que com pessoa idiota não se discute, deve-se falar 'tadinha, deve ser muito foda ser assim...'), ninguém nem olha. já tive que pedir para um cara sentado num banco reservado para dar licença para um senhorzinho sentar. O senhor jamais pediria, o que meu ex falou, segundos antes de eu levantar de um assento normal para ceder à um homem com bebê no colo foi: " a pessoa pode ficar ofendida se você oferecer lugar", eu ofereci e o homem ficou muito satisfeito e deixou eu brincar com o bebê. 
A melhor resposta que ele poderia ter.

A conclusão é, gente mal educada, grossa, 'maloqueira', existe em qualquer lugar do mundo e que a gente precisa enxergar um pouquinho mais além do oceano atlântico!

(próximo post talvez eu fale do atendimento em bares e restaurantes aqui da Alemanha, é tão ruim que parece que você está fazendo um favor à garçonete, ainda assim elas fazem 100 euros de gorjeta por noite)

sábado, 27 de setembro de 2014

Tudo a seu tempo!

Para nós que somos do Brasil é engraçado pensar em algo de ‘época’, claro que existem algumas frutas e legumes que se fora da época não são tão saborosos, e é difícil achar Colomba Pascal fora da Páscoa e Panetonne sem ser no Natal, é difícil, mas não impossível, o Carrefour às vezes vende versões fora de época.


Mas não posso esquecer que estou no país das regras e tradições, e eles são bem chatinhos com isso. Só me dei conta em junho quando a minha mãe trouxe um delicioso pote de doce de leite cremoso Aviação e eu tive a blasfêmica ideia de comprar uma Berliner sem recheio e colocar o meu doce, transformando-a assim em uma versão gringa do nosso Sonho. A Berliner, ou bola berlinense é basicamente o nosso sonho de padaria com recheio de geleia de morango (os Brasileiros ganham nessa mistura). Perguntei pro meu amigo padeiro se ele poderia me trazer algumas, mas “Berliners só podem ser consumidas do começo do ano ao carnaval”.

Mas o fato é que um mercado daqui dá uma de Carrefour e vende o doce o ano todo, mas com geleia, e eu queria pura. “Eu sei, mas não posso fazer, elas só devem ser produzidas neste tempo específico”.
Pensei que ele estava exagerando, mas um novo fato me fez perceber que é assim mesmo, o supracitado mercado já está vendendo, em pleno setembro (!!!) Lebekuchen (calma, nada mais é que pão de mel em formatos natalinos) e eu comprei porque: 1) adoro chocolate, 2) são super fofinhos, corações, árvores, botinhas de papai Noel e estrelas como guloseimas, 3)combinam muito com café. Preparei um cappuccino, abri toda contente o pacote e ofereci para a menina que mora comigo. “Que absurdo, não se deve comprar Lebekuchen antes de Dezembro, não faz sentido, eu não posso comer!”
 

Não gostei muito, mas tudo bem, eu entendi que é legal ter essas tradições que lembram infância e te ligam a sua terra, a sua Heimat. Eu também tenho algumas que não abro mão e hoje na Heidelberger Herbst, a festa de outono da cidade, eu aproveitei e testei o ‘vinho novo’ com uma torta de cebola, algo que só se faz no começo do outono, e senti este tal sabor especial.



Video com a parte medieval da festa, não tem narração porque eu ia fazer na sala de internet, mas tá rolando uma festa aqui, apagaram a luz e estão ouvindo música alta.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um Ano Ausente

Sei que aqui no blog não é bem um ano, se bem que as últimas postagens foram um tanto quanto superficiais e eu não sou bem assim, e também quem acompanha o El Ropero (.com) sabe que contribuo lá com dicas de viagem e outras coisinhas mais.

O modelito mudou e a tolerância ao frio aumentou!!

O fato é que eu consegui, olha eu achei que não conseguiria, mas no dia 23 de setembro de 2013, a pequena Juminako aqui embarcou para a maior aventura de sua vida. Eu aprendi na prática e da maneira mais intensa o possível que toda escolha envolve perda. Por mais que eu ame estar aqui, que eu veja minhas fotos e lembre o que passei e pense “nossa que foda”, eu sou a todo momento lembrada do que escolhi.

Estou contabilizando o terceiro casamento perdido, e de grandes amigos, bebês que nasceram, aniversários de pessoas queridas, momentos com a minha família e com o meu cachorro. Sinto falta de coisas como a minha máquina de costura, domingos na Choperia Liberdade, academia (a daqui é muito chata e não tem os aparelhos essenciais para o popo brasileiro), falar a minha língua, o nosso português é tão lindo, e como dizem as gringas “tão sexy”, ir ao médico é um tormento, fazer mercado é uma tristeza: Cadê minhas frutas?

Mas ai eu tenho uma aula incrível na faculdade, converso com pessoas interessantíssimas na cidade ou em outros países, planejo Halloween na Irlanda, volto para casa de madrugada a pé, ando de bike para todo lado (principal motivo de escolher Alemanha), cuido da minha casa, da minha alimentação, seguro-me nos trinta para não explodir com a companheira de piso; amadureço no modo hard!

“Você acha que a Juliana está diferente?” perguntou minha ex-futura-sogra para minha mãe quando veio me visitar em Julho. “Adaptada” foi sua resposta, concordo, ainda sou aquela mesma menina-mulher que gosta de coisas fofas, acabei de juntar pontos para trocar por uma pelúcia no supermercado, mas a diferença é que tenho que cuidar das minhas finanças, e se ficar doente estou basicamente sozinha, tenho amigos, tenho namorado, mas não tenho a família e isso é bem tenso.

Eu tenho mais um ano ai para explorar ainda mais a minha independência de tudo e todos, mas até agora falhei! Tenho o poder de acumular coisas -agradeço isso ao meu charme- porque já ganhei tanta coisa em um ano (livros, móveis, roupas, ursinhos, material escolar, ventilador, maquina de waffle, globo terrestre, ferro de passar roupa, secador de cabelo...E o mais importante: Minha Bicicleta) que parece que sempre morei na Alemanha! 
E já acumulei tantos amigos legais que percebi que o poeta estava certo: é impossível ser feliz sozinho!

Castelo e a ponte antiga em Heidelberg!

Não me canso dessa roupa! Dirndl

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Homenagem à Lua (e nosso ensaio)

Em Schwetzingen encontrei um portão perfeito que lembra o desse ensaio aqui.http://juminako.blogspot.de/2013/01/edwardian-lady-por-lua.html
(Schwetzingen é uma cidade da Alemanha localizada no distrito de Rhein-Neckar-Kreis da região administrativa de Karlsruhe, estado de Baden-Württemberg, o ponto principal é um lindo castelo estilo Versailles)









segunda-feira, 17 de março de 2014

Viva a Sociedade Alternativa!

Antes de começar o post é preciso tocar esta música:


Porque este foi o espírito da minha última   penúltima viagem. É preciso um post inteiro só para falar desse assunto.
Eu e a Roberta do Couchsurfing decidimos fazer uma viagem com sérias restrições orçamentárias e acabamos decidindo pelos lugares menos indicados para tal: Zürich e Munique, todo mundo sabe que Suíça é um pais bem caro e meus amigos aqui foram unânimes: Zürich, caro!
Não teve um que falou: Ai é lindo, as montanhas, blá blá. As recomendações foram: Leve sua comida da Alemanha, não beba no bar, a entrada das baladas é no mínimo 15 Euros.
Foi bom, porque fomos preparadas. Vamos as contas:

Passagem ida: 15 euros
Ticket díário zona 2: 16,50 Francos (quase o mesmo em Euro) (compramos dois para três dias)
Ticket para o bus noturno (sim, você compra um diário e ainda tem que pagar o noturno): 5 Francos
Tour: 4 francos
Passagem para Munique: 15 Euros

Nossas mochilas foram pesadas porque levamos tudo da Alemanha, frutas, castanhas e bebidas, mas nao pense que elas voltaram vazias, como falo ao final do post.

O que tivemos sorte foi que nossos hosts cozinharam com a gente todos os dias e também serviram Raclette!

Lucca, eu, Robs e Pati

Eles são seis amigos de infância que mudaram para a capital para estudar, cada um deles tem uma característica e qualidades diferentes, são uma comunidade de dar inveja, unidos como irmãos.
A decoração da casa, que eles chamam Finca ( tipo fazenda em espanhol) é a cara deles, com itens comprados em suas viagens pelo mundo. As fotos são massa.





Vista da janela

Acabamos encurtando a viagem em um dia e voltando à nossa amada Alemanha! (já virou minha terra II) Fomos à Munique, onde comprei meu dirndl (conto mais depois). E ficamos na casa de outro Couchsurfer. Mais uma comunidade alternativa, aqui meio Raul mesmo, nos sentimos muito em casa, com liberdade para cozinhar, chave para voltar a hora que quiséssemos.
No penúltimo dia fomos convidadas para um super bazar de troca de roupas, coisa que adoro e que fiz em São Paulo por três anos, mas esqueça tudo o que você sabe sobre bazares, era gigante, e caótico, dois andares com mesas e roupas por todos os lados, e sem regras, viu algo, gostou? Só pegar experimentar e levar, não precisava necessariamente trocar. Só minha amiga levou roupas, mas eu acabei conseguindo algumas muito legais, entre elas um vestido meio "prenda". Foi mais ou menos assim:






Depois fomos para o Kulturjurte para uma sessão de Yoga do Riso, ou risoterapia, dentro de uma tenda cheia de cobertores, onde passamos 30 minutos rindo um do outro. Tudo isso sem bebidas, só alegria mesmo. Foi uma experiência...Bom, alternativa!


Nosso host também nos explicou sobre o Dumpster Diving, algo a ver com aquela família alemã que vive só de comidas descartadas em mercado, bom aparentemente tem todo uma comunidade de pessoas que fazem o mesmo. Eles dividem entre si o que encontram e ajudam a diminuir o descarte de alimentos e materiais bons. Conversando com eles dá para entender porque faz sentido.
Por mais que ainda não me sinta preparada para entrar nessa "sociedade" aprecio o que fazem, eles se encontram para discutir maneiras de diminuir o consumo e disperdicio dos recursos naturais, além de se locomoverem de bike para não poluir, serem em grande parte vegetarianos e caretas.
Essa viagem abriu muito nossa cabeça, além de Munique ser uma cidade incrível!
Se eu pudesse mudava para lá já!

domingo, 16 de março de 2014

A vida na estrada, pessoas vem e vão...

Este fim de semana foi ótimo, mas também um pouco triste, uma das minhas primeiras amigas aqui, talvez a minha melhor amiga, veio se despedir, ela abandonou o curso e vai voltar pros Estados Unidos.
Eu tento não me abalar por isso e pensar que as pessoas e sentimentos que mexem com você nunca mudarão, por isso, mesmo que não nos vejamos mais, o que é mais provável, sempre terei uma lembrança boa de alguém com quem dividi angústias e com quem turistei bastante.

Como ela faz aniversário um dia depois de mim, 9 de março, comemoramos juntas em Roma, numa das viagens mais gostosas que tive, e já que estamos na Alemanha, um ditado que uma vez um amigo me falou, e que se concretizou:

Man trifft sich immer zwei Mal im Leben
As pessoas sempre se encontram duas vezes na vida. Até lá. Viel Glück.

Melhores momentos:

fazendo a oriental



Cerveja na Fontana di Trevi


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Total Recall e morar numa cidade pequena


Este fim de semana assisti à refilmagem de Total Recall: Colin Farrell está mais ou menos, Kate Beckinsale linda como a esposa, Jessica Biel como mocinha, mas o que na verdade me chamou a atenção foi a super população da "colônia", uma espécie de super favela tecnológica, onde as pessoas estão "presas" às suas funções e com rígido controle para ir à cidade.
Nossa mobilidade aqui em 2014 também é um pouco limitada, eu por exemplo tenho um passaporte brasileiro, portanto preciso de visto para alguns lugares, que pode ser negado mesmo mediante quantia um tanto quanto exorbitante, Estados Unidos te faz ir a dois lugares, ficar em longas filas e pagar, Canadá pede carta de recomendação e dinheiro, Japão motivos da viagem, declaração de bens e dinheiro. Mas temos acordos com alguns países onde, sendo turista, entra-se facilmente por limitado período de tempo. Depois de conhecer pessoas da China e Uzbequistão, vi que não estou em tão má posição assim, Uzbeques precisam de visto para deixar o país, sim, eles tem que avisar que vão sair, dar o motivo e voltar para regularizar a situação. Já na China habitantes de uma região, não podem mudar tão facilmente para outras, mais populosas. É um tanto quanto Total Recall, certo?
O que achei interessante também é a população da "colônia" , uma megacidade com etnias de todos os lugares, com letreiros em diversas línguas, mas principalmente inglês e chinês e pessoas, muitas pessoas pela rua, sujeira. Toda vez que assisto a filmes de ficção científica como esse penso que não quero viver em um mundo bagunçado como o retratado.
Ainda mais agora, indo para meu quarto mês morando numa ex-vila, com pouco mais de 25 mil habitantes, onde domingos e dias de semana após 22 horas, quase não se encontra pessoas. É calmo, dá para andar de bicicleta e dormir sem barulho. Eu achei que ia odiar morar em cidade pequena, estou sendo surpreendida, pode ser a idade, ou o fato de saber que é temporário.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Amor à Primeira Vista

A todo lugar que vou tento manter uma conexão com o ambiente, tento ver se sinto algum Dejá vu, aquela sensação misteriosa de já ter feito algo, visto alguém ou estado em algum lugar antes, que muita gente eu acredita ser em outra vida.
Quem não gostaria de saber que na vida passada viveu perto de um dos belos castelos na Europa, ou numa exótica praia nas Filipinas, o que eu não quero saber, mas que é mais provável, é que fui uma camponesa trabalhando na França medieval, que recusando-se a pagar os impostos, foi queimada como bruxa, ou falando alguma besteira e foi enforcada como bruxa, é bem possível que alguma das duas opções tenham acontecido.
Sexta-feira eu perambulava pelo sebo em frente a Goethe Universität, só para olhar os títulos mesmo, coisa que estudantes e amantes das letras entenderão, ou para ver se achava algum dicionário ou gramática do alemão, passo por uma fileira e um livrinho pequenino me chama a atenção, eu estava a uns quatro metros de distância, mas mesmo assim consegui enxergar aquela lombada de 4 centímetros. 
Eu me aproximei de sua capa em couro com arabescos e o desenho de um Querubim, folhei suas páginas amareladas em busca de data, mas alguém havia arrancado as primeiras páginas, talvez porque havia alguma dedicatória romântica? Nunca vamos saber. O título tinha a palavra Gechichte, história, o resto não me lembro, o meu Hans ainda anda perneta. O conteúdo, talvez mesmo se eu entendesse alemão não conseguiria ler, era difícil de diferencia, as letras eram ao estilo Old English Text MT do Word. Tudo muito lindo, mas um pouco inútil.
A vendedora falava espanhol, o que era melhor para mim, negociar em mímicas não é tão fácil, cuánto cuesta? Pergunto, es doce, pero para ti es diez. Olho desolada, dez euros, se eu fizer a conversão, não vou levar. Bem que dizem que "quem  converte não se diverte", mas é diferente uma viagem de vinte dias para uma estada de dois anos. Ela entende meu dilema, se trata de un libro muy antiguo. Lo sé, y muy bonito también. Sei que fiz errado aqui, ao barganhar eu deveria ter informado, pero le falta las primeras páginas! Mas eu estava apaixonada, e quando nos apaixonamos esquecemos os defeitos que estão ali, literalmente na primeira página.
Pedi um tempo para pensar, olhei outras capas, e fiz o teste do "da próxima vez", o que quer dizer: se da próxima vez que eu for ao sebo o livro ainda estiver lá, é porque está me esperando e eu tenho que levar. Não aguentei esperar e voltei algumas horas depois, a vendedora já estava indo embora.

Hoje vou tentar de novo.



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O dia em que roubaram meus Timberlands na Alemanha

Título alternativo: The-day-I-had-my-fucking-100-euro-hiking-shoes-stolen


Nao sou o primeiro e nem serei o último brasileiro bobao que confia demais e esquece que existem ladroezinhos em qualquer lugar, mesmo no centro esportivo da faculdade, onde apenas é possível entrar mostrando a carteirinha e tênis limpos.


Pois é, aconteceu, e hoje eu fiquei bem puta-da-vida chateada pois fiz a minha primeira trilha com os amigos da faculdade, tive que usar um tênis idiota de 12 euros que comprei para poder entrar no bendito centro esportivo. O bom é que até os sapatos tosquinhos tem solado antiderrapante, Sem maiores problemas para andar pelo barro.


Uma vez por semana temos essa aula de ginástica chamada Bauch, Beine & Po, nosso querido GAP do Brasil, e para nao fazer feio eu a frequentava só para fortalecer o esteriótipo (brasileiras só malham glúteos). A sala é super lotada, por isso é normal deixarmos nossos pertences no vestiário, eu só levo comigo coisas que nao podem ser roubadas mesmo, como carteira, celular, nesse dia coloquei minhas botas dentro de uma sacola plástica, amarrei e coloquei dentro de uma outra bolsa com uma frigideira que ganhei da minha amiga. Quando voltamos ao final da aula, a frigideira estava longe, e as botas na mochila de alguém.


Fiquei com raiva, mas decidi para a minha vida que vai ser difícil alguma coisa realmente me chatear, ainda mais coisas materiais, isso passa, e eu sabia que elas seriam aposentadas aqui na Alemanha, além de estar com elas no pé o tempo todo, elas tinham dois anos de uso comigo, e mais alguns meses com o antigo dono.


Eu conto para meus colegas e ninguém acredita, por que alguém faria isso? Porque independente do lugar, pessoas sao pessoas,pode ser no primeiro mundo, na faculdade, no trabalho (como ouvi de uma amiga que pegaram o celular no banheiro e nao devolveram), o ser humano é um bicho fodido, acumula coisas ruins por motivos fúteis.


Mas eu acredito em abrir espaco para o novo, que venham as novas botas!



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Se vira...

(I really need to write in my Muttersprache! I miss my sonorous and sweet Brazilian Portuguese!)

Eu tive que voltar a escrever em português pois algumas coisas só soam engraçadas na nossa própria língua (também porque fico com preguiça de escrever em inglês, como vocês viram).

Novidades? Tantas que nem sei por onde começar, ok, sei.


Terça-feira tive meu primeiro, e se tudo der certo, último exame do mestrado, era uma prova com 6 perguntas, 2 de cada foco, deveríamos escolher uma de cada e responder em 90 minutos. O formato da resposta era dissertação-argumentativa, felizmente algo que cansamos de fazer na faculdade de Letras e nos vestibulares. Acho que neste ponto eu tive uma vantagem, normalmente eu estruturo respostas neste formato: introdução, desenvolvimento e conclusão. Então, espero que os professores concordem com as minha ideias.

Spring-break começou hoje, mas nem por isso significam férias, tenho dois trabalhos para entregar, um usei a malandragem Fefelechiana e vou fazer análise de filme e o outro vai ser um desafio maior, vamos ver como sai.

O outro ponto é o Se vira nos (quase) trinta! Ainda tenho 395 dias até lá, mas já começo a rever o que quero para o meu futuro. O fato é que sou a personificação da música do Zeca Pagodinho, aos trancos e barrancos a gente leva, apesar de ter vontades de coisas que quero fazer, eu vou meio com o que aparece, sugestões, ideias e muitos "por que não?"
Uma amiga aqui falou que tenho bastante experiência profissional e bem diversa, e que isso é bom. Bom para experimentar novas áreas. Pode ser. O fato é que já tentei ser "adulta" e falhei miseravelmente, declarei imposto de renda errado, estraguei roupas ao tentar lavar, sou dependente demais do meu círculo (familía e amigos).
Mas estou tentando novamente e dessa vez bem longe, apoio só pelo Skype e mensagens lindas nas minhas redes sociais!
Coisas engraçadíssimas estão acontecendo, daquelas que você chora, mas sabe que daqui alguns anos vai rir delas, eu estou tentando rir já!

look pescadora


Vamos aos itens que eu tenho que dominar para adentrar o "mundo adulto" ainda que tardiamente:

- Lavar a própria roupa (tentando não estragar muito) = Feito
- Alimentar-se saudavelmente = quase (minha casa atual só tem o topo do fogão, basicamente me alimento de ovos = omelete e cozidos, saladas, pão, yogurt e frutas, mas no bandejão só salada e proteína)
- Seguir a agenda de compromissos = quase
- Manter o quarto/casa limpa = Feito (mas não é muito divertido ter 3 roommates, entre eles um cara de dezenove anos)
- Cuidar da minha própria saúde = Quase (não é apenas comer direito, é não esquecer o guarda-chuva, usar roupas quentes, tomar uma vitamina quando precisar. Mas é bem difícil ficar doente sozinha, parece pior)

Coisas que estou aprendendo / saudades:

- Valorizar o sol/calor ( não gosto do fato do sol nascer às 8h e se pôr às 16h, ainda bem que o dia já está ficando mais longo)
- Amigos
- Como somos carinhosos e atenciosos (hoje uma americana expressou sua felicidade pelo fato de eu ser brasileira, sempre bem humorada e disposta)
- Saudades dos meus encontros do Couchsurfing onde eu demorava 30 minutos para me despedir das pessoas, aqui é assim, falou tchau, as pessoas nem esboçam reação.
- Atividades gratuitas (não existe nada, ou pelo menos quase nada, de graça aqui, quer fazer xixi? Tem que pagar, até na balada/mcdonalds tem uma mulher com paninho e um pratinho onde você tem que deixar umas moedinhas, basicamente só parques são de graça, se algum dos meus experts em Alemanha souberem de atividades para o povão, favor escrever aqui!)
- Perrengue é foda, mas te ajuda a amadurecer que é uma beleza.
- Europeus não sabem quem foi Carmen Miranda, não sabem! Estou generalizando, mas acho que faz sentido, eles acham que o Minion com frutas na cabeça é só uma criação original! Felizmente americanos sabem que ela foi.
- Enquanto na América do Sul falamos em Países em Desenvolvimento, para eles somos terceiro mundo e estamos todos no mesmo pacote, aparentemente é por culpa da escravidão, que eles insistem ser uma criação dos países pobres.
- Que você só percebe de onde vem, quando não está mais lá. Claro que odeio um monte de coisa do meu país, da América Latina, mas descobri que somos muito mais fodas do que imaginamos, jogo de cintura é só uma das coisas que me orgulho de ter (para dançar e para viver!)

Viva as cores, a alegria!

O caminho é longo, imagem inspiracional do jardim do castelo de Heidelberg...




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